Imagino que ao ler o título desse texto e essa introdução o seu pensamento é, automaticamente, o de “o que essa garota vai aprontar?”
Bom, quando surgiu a ideia de fazer uma crônica pela Semana da Mulher, confesso que não tive ideia de como e do que escrever. Até que vi uma pequena luz no fim do túnel da imaginação.

11cd15fa78494533e7f358e68c62954dIlustração: @Lela.Brandao – Instagram

Desde 2017 sendo colunista deste blog e desde 1996 sendo palmeirense, já li, ouvi, presenciei e vivi alguns absurdos dentro do futebol (e da vida), principal e simplesmente por ser mulher.

Totalmente fora daquela famosa caixinha cor de rosa, muito pelo contrário, eu sempre fui muito frequentadora da caixinha verde e branca, embora com alguns percalços no meio desse curto porém longo caminho decorado pelas cores do Palestra Itália tenham acontecido. Sempre preferi uma bola a uma boneca, uma camisa do Palmeiras a um vestido, ver o jogo no final de semana ao invés de um programa mais “menininha”.

Confesso que não sou uma frequentadora assídua de estádios, por questões que não cabem neste texto. Confesso que não tenho foto com a minha primeira camisa do Palmeiras (que foi aquela lendária com patrocínio master da Parmalat). Confesso que ao ver a foto dessa criança no Pacaembu imaginei que poderia ter sido eu há alguns anos atrás, mas principalmente confesso que torço para que, quando ela for grande, os tempos das mulheres nos estádios e no futebol sejam outros totalmente diferentes dos que são agora e que são totalmente diferentes dos que eram há alguns anos atrás graças a mulheres empenhadas em mudar o cenário (não somente) esportivo no país.

Fadinha sensata - Dia da MulherFoto: Marcela Permuy

Nós sabemos que o sentimento de torcer pelo Palmeiras e gostar de futebol é muito maior do que gênero, preconceito ou machismo. Mas sabemos também que ser uma mulher apaixonada por futebol e pela Sociedade Esportiva Palmeiras ainda é quebrar tabus.

Nós tentamos, sempre, principalmente porque a cada 90 minutos de uma partida assistida, seja no Allianz, seja no bar, seja em casa, com aquela amiga palmeirense que entende o que é torcer, estamos lutando pelo nosso espaço, que vai muito além de um conto de fadas sobre futebol.

Ainda temos muito pelo que lutar, ainda temos muito pelo que nos unir, dentro e fora das quatro linhas. O espaço feminino, de um modo geral, ainda é segmentado pela sociedade patriarcal. Alguns dados comprovam que uma mulher é agredida verbal ou fisicamente a cada 2 segundos no Brasil. É um índice absurdo e que deve ser mudado, ou melhor, zerado.

Estamos indo, devagar, com um time feminino sendo montado, com uma Copa do Mundo Feminina passando pela primeira vez na maior emissora brasileira, com mulheres apresentando programas esportivos. Essa luta que começou há décadas atrás ainda mostra que temos um longo caminho pra percorrer e não desistir.

Tem muita resenha pra rolar depois de uma partida e com certeza vai rolar muita corneta, análise técnica, análise tática, palpites sobre as próximas rodadas e o que mais tivermos de bagagem quando o assunto é futebol, porque nós temos bagagem e conhecimento sobre o assunto.

7cd04dfb-ea14-4adc-b4eb-0d6b0e875400Foto: Rainha da minha vida. Plenas comemorando o Deca no meio da rua.

Se essa resenha, essa luta e essa torcida forem acompanhadas da sua melhor amiga palmeirense, ótimo.

Vó - Dia da MulherFoto: Mariana Beltramine. Dona Eloiza Lemes, 79 anos.

Se essa resenha, essa luta e essa torcida forem com a companhia de milhares no estádio, incluindo outras mulheres, ótimo.

Independente de como

TORÇA COMO UMA GAROTA!

Autora : Letícia Basto Pigari