SOBRE PORCOS E PEPPAS: A IMPONENTE CORAGEM PALMEIRENSE!
“OLÊ PORCO! OLÊ PORCO!”
O grito de guerra que ecoa das arquibancadas vestidas de Verde e Branco, é a nossa marca registrada. Não é possivel imaginar um jogo, em que o Porco não seja entoado pela multidão dos nossos fanáticos torcedores.
Mas o que nem todos sabem, é que o canto que hoje expressa tanta paixão, tem uma história de coragem e superação. História que começou muito cedo.
Estamos em meados de 1942. E o mundo vive a Segunda Grande Guerra Mundial.
Quando o Brasil resolveu assumir a sua posição junto aos países Aliados, exigiu que todas as agremiações culturais, que tivessem nomes oriundos dos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), retirassem imediatamente, qualquer vestígio dos “inimigos”. Foram tempos de ódio, intolerância e perseguição.
O nosso Palestra Itália, recebeu o seu ultimato: era mudar de nome, ou fechar as portas.
Conta-se que o clima de guerra, foi transportado para as arquibancadas e os rivais passaram a chamar os torcedores do Palestra de “fascistas e porcos imundos“, as mesmas alcunhas com que se referiam aos rivais politicos. Alguns torcedores da época, foram humilhados e envergonhados, apenas por vestirem a camisa alviverde.
O Palestra se transformou em Palmeiras. A guerra acabou. E os rumores de exclusão foram abafados.
Mas os resquícios dessa passagem dolorosa, ficaram guardados e no final da década de sessenta, o antigo apelido pejorativo, renasceria com força total.
No dia 28 de Abril de 1969, um triste acidente de carro, vitimou dois jogadores do Corinthians. Com o Campeonato Paulista à todo vapor, a diretoria alvinegra enviou um pedido à Fedaração Paulista de Futebol, para que fosse autorizada a inscrição de dois jogadores, que ocupariam o lugar dos falecidos Lidú e Eduardo.
Como o prazo para a inscrição de atletas novos havia se encerrado, a FPF convocou uma reunião com todos os clubes participantes da competição, onde a solicitação seria votada. Para que o time do Parque São Jorge, fosse beneficiado, era preciso unanimidade no deferimento. Mas Delfino Facchina, presidente do Palmeiras, disse “não“.
O pedido estava negado.
Depois de uma discussão acalourada entre eles, o presidente do Corinthians, Wadih Helu, chamou o rival de “porco”, seguido de “vocês são sujos“. A história se espalhou rapidamente e a imprensa fez questão de alimentar a richa entre os torcedores.
A fase final do Paulistão chegou como uma peça pregada pelo destino, os dois times teriam que se enfrentar, num Derby que ficaria marcado para sempre. Os adversários, soltaram um porco dentro do campo, como forma de protesto ao episódio e passaram a usar os termos “porco” e “sujo“, como forma de ofensa ao rival.
A torcida do Palmeiras foi ferida em seu brio.
Não foram poucas as brigas violentas, protagonizadas por torcedores que não admitiam tal alusão. O clima ficou muito tenso e por anos, os palmeirenses tentaram em vão, se livrar da associação com o animal, que convenhamos, causa repugnância.
Mas o time de Parque Antártica viveria uma das experiências mais contundentes da sua história.
Experiência que teve como mentor, João Roberto Cobatto, então diretor do departamento de marketing do clube. Como um estrategista, ele construiu uma teoria de que a aceitação da imagem do porco como mascote, seria, além de uma virada de mesa em cima do grande rival, uma tacada de mestre, do ponto de vista comercial.
Porém a resistência era muito grande, ninguém queria ter a imagem do clube do coração, associada à lama, por assim dizer.
Nosso inteligente articulador insistiu e após três anos de muita conversa e convencimento, as principais torcidas organizadas do Verdão, toparam o desafio.
27 de Agosto de 1986.
Um dia memorável!
Especialmente escolhido!
Dia de Derby!
Alguém tinha alguma dúvida, de que o jogo escolhido para o lançamento da grande idéia, seria o maior duelo dos rivais? Se é para se vingar, que seja de forma perfeita, certo?
O estádio estava lotado, quando a torcida do Verdão começou a gritar ensandecida:
“DÁ-LHE PORCO, DÁ-LHE PORCO”
Para a surpresa dos adversários, que ficaram estarrecidos com a cena inimaginável. Por todos os cantos do país, o que se ouvia era “Que coragem da torcida Palmeirense!”. Tamanha ousadia, estampou todas as manchetes dos jornais.
Naquela tarde, o Palmeiras não só venceu, como eliminou o arquirival da competição, cenário que favoreceu ainda mais a identificação, com o agora candidato a mascote de estimação.
E de fato, não demorou muito, para que a repugnância desse lugar à outro sentimento: o orgulho. O nosso orgulho, outrora ferido, estava enfim, curado e agora o Porco, parecia estranhamente, familiar. Nos fazia fortes e capazes de enfrentar a “lama e o caos“.
Sete anos mais tarde, já fazendo parte das nossas entranhas, o nosso Porco, quem diria, foi um dos personagens principais da conquista de mais um Paulistão e mais uma vez em cima do freguês histórico. Ao lado de Evair e Edmundo, o Porco foi o artilheiro daquela final.
O ano era 1993.
Ao imaginar que estaria nos derrotando, a provocação ofensiva e debochada de Viola, fez o Porco que habita em nós, virar bicho.
Jogadores, diretoria e torcida, estavam novamente feridos e todas as lembranças de humilhação, vieram à tona como um filme triste.
Eles só se esqueceram de um detalhe: estavam provocando a Sociedade Esportiva Palmeiras.
Um time que carrega em seu DNA, uma história de luta. Que é filho de um povo que sabia o que era trabalho árduo e conhecia muito bem, o significado da palavra superação.
Todos nós sabemos o final dessa história, “4×0 pro Verdão…”
Ser Porco, representa a volta por cima, a capacidade de renascer das cinzas, ainda mais forte. Essa é a nossa identidade. Isso é ser Palmeirense por todos os poros.
Quando decidimos nomear esse projeto de Peppas na Língua, fomos alvo das críticas de alguns torcedores do Palmeiras. O motivo? Pasmem vocês, o fato dos adversários usarem essa imagem para nos ofender, a famosa “Arena Pepas”.
Ao ouvir isso, imediatamente nossos olhos se voltaram para o passado e relembramos emocionadas, como nos tornamos a torcida mais fanática do mundo. Como fomos fortes e determinados! Quem em sã consciência, assumiria de forma tão apaixonada, a imagem de um porco como representante do seu time? Nenhum adversário foi capaz de um ato tão grandioso assim.
Então, se você está incomodado com a escolha do nosso nome, precisa ser mais Palmeirense! Precisa trazer à memória, a história gloriosa de como nos tornamos quem somos. De como nos tornamos Porco, contra tudo e contra todos.
Como Peppas na Língua, temos orgulho de dizer que estamos repetindo a história de coragem e enfrentamento dos nossos antepassados, que transformaram ofensa, em força.
Seremos Peppas sim!
Sem papas na língua!
Falando aquilo que sabemos e acreditamos.
Expressando todo o nosso amor pelo Verdão.
O jogo virou outra vez!
Porque nas nossas veias corre o sangue de Luigi Cervo, Ezechiele Simone, Luigi Emanoele Marzo e Vicenzo Ragognetti! E na nossa alma, vibra a coragem imponente daqueles torcedores do passado, que não tiveram medo de criar uma identidade nova que nos fez únicos.
Que nos fez Porcos e agora Peppas!
Autora : Alê Moitas