Precisamos falar sobre racismo e violência na Libertadores
As cenas de guerra civil que tomaram conta do gramados quando árbitro apitou o final do jogo no Uruguai ainda não saíram muito bem na minha mente. E o pior de tudo é que não é a primeira vez que isso acontece.
Quando acabou o jogo, eu ainda fiquei horas com a TV ligada e por isso tive a oportunidade de ver uma entrevista ao vivo do Alexandre Mattos na saída da delegação do estádio e ele falou que era um absurdo ver cenas como essa; que em campeonatos como a Champions League esse tipo de coisa não acontecia.
Na verdade nós já vimos cenas de violência nos campeonatos europeus e na Champions, principalmente fora dos estádios. Além de violência também já vimos casos de racismo. Acontece que lá a UEFA não tolera essas coisas. Quando são verificados casos como esses, ela não é omissa e pune os envolvidos: clubes e torcedores.
Muitos clubes foram punidos, por exemplo, em virtude de racismo cometido por torcida ou por jogadores são os casos de: Steaua Bucareste, da Romênia, Debreceni, da Hungria, Maribor, da Eslovênia, Chikhura Sachkhere, da Geórgia, CSKA de Moscou entre outros.
Agora quando falamos da nossa Libertadores, competição essa que o torcedor brasileiro tem tanto carinho e idolatria as cenas de racismo e violência são recorrentes. Ano passado, no mesmo Uruguai, só que contra o Nacional, Gabriel Jesus foi chamado de macaco do início ao fim da partida.
Esse ano Felipe Melo foi chamado de macaco em campo pelos jogadores no jogo em São Paulo e eu sabia, você sabia, todo mundo sabia que o jogo lá no Uruguai teria confusão, mas aparentemente a Conmebol foi a única a não se tocar do que poderia acontecer.
A violência cometida pelos jogadores do Peñarol, que segundo o árbitro foram provocados pelo gesto de agradecimento à Deus feito por Felipe Melo (risos), são injustificáveis. Senão se ganha na bola tentam ganhar na porrada, com se isso pudesse alterar o resultado da partida.
Infelizmente, esses casos de violência e racismo são recorrentes. Alguns casos de violência foram: em 2005 a torcida do River Plate promoveu um quebra quebra do Morumbi após perderem para o São Paulo; em 2011 Muricy saiu com o rosto machucado quando jogadores começaram a jogar objetos no campo após o empate do Santos com o Cerro Porteño; no mesmo ano de 2011 teve confusão na final daquele ano do Santos com o Peñarol; em 2013 teve corre corre e pancadaria no jogo do Atlético MG e Arsenal Sarandí no Horto; em 2013 o torcedor do São José da Bolívia morto pelo sinalizador jogado pela torcida do Corinthians; enfim são tantos exemplos lamentáveis que poderia ficar horas aqui citando eles.
Depois de ver os jogadores do Palmeiras saindo com rosto sangrando do gramado, com jogadores e os próprios funcionários do estádio ajudando a acuar, agredir jogadores e a torcida visitante eu me pergunto: até quando a Conmebol vai deixar isso acontecer?
Punir o Palmeiras como aparentemente querem fazer é ridículo e premia a má-fé e falta de espírito esportivo no Peñarol. Felipe Melo deve ser punido pelo soco que deu no jogador adversário, apesar de acreditar que no lugar dele, eu teria feito o mesmo; foi ofendido nos jogos e acuado pelo adversário no fim da partida. Mas punir o clube? A Conmebol não deve ter visto o mesmo jogo que eu.
Ainda se houver punições, afinal a Conmebol normalmente faz punições ridículas e inócuas, isso quando as faz. Aí te pergunto, precisa morrer alguém no gramado para Conmebol fazer algo e tomar uma atitude? Porque morte na arquibancada já tivemos como o caso do boliviano morto por um corintiano e a omissão da Conmebol permanece.
Isso transcende o clube, transcende a nacionalidade e só quem é muito clubista para falar que o Palmeiras mereceu as cenas lamentáveis que vimos na quarta-feira.
Isso não é Libertadores, isso não é futebol isso não é ter um pingo de civilidade.
Ano passado com a tragédia da Chapecoense os próprios uruguaios mostraram um show de humanidade, mas aparentemente aquilo foi instantâneo e não é aplicado todos os dias em todos os jogos. A selvageria segue assolando os estádios no continental até que uma tragédia torne a acontecer.
E a culpada tem nome: Conmebol com a sua omissão diária.
Autora : Marcela Permuy