Porco come lixo – os contornos dessa rivalidade
Palmeiras vai a Itaquera encarar o seu maior rival e nada melhor que relembrar o porque essa rivalidade é tão grande.
Essa semana tinha tudo para ser tranquila. Só que no mundo alviverde nada é tão simples. Ahhh não adianta se o time se classificou com um sonoro 4 x 0 para as quartas de final da Libertadores, o que interesse é que o time perdeu a liderança do campeonato brasileiro e agora vai encarar o seu maior rival.
O treinamento do verdão terminou com protestos da organizada na porta do Centro de Treinamento, e, embora o tom tenha sido inadequado, o protesto é válido sim. O alviverde caiu muito de rendimento após a Copa América e já contava com 5 jogos sem vencer até a última terça, perdeu a invencibilidade no campeonato brasileiro diante do Ceará, perdeu a liderança em um empate terrível contra o Vasco e soma-se a tudo isso o baixo desempenho que o verdão tem tido nos últimos jogos contra o Corinthians.
Quesitos técnicos à parte que precisam ser claramente melhorados depois da Copa América, na minha opinião nos jogos contra o Corinthians falta ao verdão um tempero especial para vencer: falta sangue no olho, falta ter ódio dessa porra de Corinthians e falta ainda mais os jogadores entenderem o que é um Palmeiras x Corinthians.
Para nós torcedores saber o que é essa rivalidade vem com a gente no berço, a gente não sabe bem porque ou como surgiu, mas a gente odeia esses caras que usam preto e branco, a gente quer ver eles sofrendo dentro de campo custe o que custar. Mas os nossos jogadores nos últimos anos parece que não entendem muito bem que quando se joga contra o Corinthians se joga com o coração da ponta da chuteira e com o coração na mão.
Derby é aquele jogo que pode consagrar um jogador ou acabar com a vida dele dentro do Palmeiras. Por isso vou aqui fazer um retrospecto de jogos e momentos importantes que definem os contornos dessa rivalidade.
O início – 102 anos de rivalidade
Foi em 6 de maio de 1917 que a equipe do Palestra Itália enfrentou o Corinthians pela primeira vez. O primeiro encontro das equipes terminou com a vitória alviverde por 3 a 0. Foi difícil para o Corinthians, que era até então o único time da cidade e que estava invicto há três anos, sendo o campeão da Liga Paulista de Futebol em 1914 e 1916, caiu diante daquele recém-chegado que se tornaria ali, o seu maior rival.
A terceira partida entre os clubes, teve mais rivalidade ainda. Foi em 17 de março de 1918, quando os jogadores do então Palestra Itália passaram em frente a pensão onde os atletas corintianos estavam, pegaram um osso de boi e escreveram a seguinte mensagem: O Corinthians é canja de galinha para o Palestra; e atiraram o osso no refeitório dos corintianos. O jogo terminou empatado em 3 a 3 e o osso é guardado até hoje na sala de troféus do Corinthians.
O Derby de Natal
No campeonato Paulista de 1921, na última rodada da competição o título estava entre Corinthians e Paulistano (que o time mais vencedor da época). O último jogo do Corinthians era contra o Palestra, com a vitória seriam campeões daquele campeonato. O jogo foi realizado no recém comprado Parque Antarctica em pleno dia de Natal. Se vocês acham que porque o jogo não valia mais nada pro Palestra eles não iam pra cima, queria dizer que nessa época mesmo não valendo nada o time tinha sangue no olho. Não atoa o resultado daquela peleja foi 3 x 0 pro alviverde que tirou as mãos alvinegras da taça do campeonato paulista daquele ano, dando o título para o Paulistano.
A maior goleada
A maior goleada ainda pertence ao verdão e será bem difícil de tirar de nós. Foi em 5 de novembro de 1033 que o Palestra Itália, em jogo realizado no próprio Palestra aplicou a maior goleada da história do derby e da história corintiana. A partida válida pelo torneio Rio São Paulo teve quatro gol de Romeu Pellicciari, um de Gabardo e três do Imparato, ou seja, imbatíveis 8 x 0 em cima do Corinthians. A repercussão daquele jogo foi tamanha que levou a queda do presidente corintiano da época.
Derby para acabar com a dor
O ídolo Dudu das décadas de 60 e 70 passou por um dos momentos mais difíceis de sua vida em 1969: o falecimento de sua mãe no dia 7 de maio, às vésperas do dia das mães. O treinador da época, Rubens Minelli, dispensou o jogador da partida contra o Corinthians que seria realizada justamente no dia das mães. Mas Dudu não quis a dispensa, quis jogar e ajudou o verdão a derrotar o Corinthians por 1 x 0 e foi eleito pela imprensa o melhor jogador em campo, dedicando a vitória a sua mãe.
Somos o porco mesmo!
Foi graças a rivalidade corintiana que ganhamos o apelido de Porco. A história se iniciou em 1969 quando dois jogadores destaques do Corinthians sofreram um acidente de carro e vieram a falecer. O Campeonato Paulista já não aceitava mais inscrições de novos jogadores naquela data, mas o Corinthians fez requerimento especial à Federação Paulista de Futebol para que aceitasse a inscrição de dois novos jogadores dada a excepcionalidade do caso. Em reunião extraordinária com todos os clubes, apenas um presidente não aceitou: o então presidente palmeirense Delfino Facchina. Na reunião o presidente corintiano chamou o palmeirense de porco.
Mais adiante no primeiro confronto dos clubes após o episódio, os corintianos soltaram um porco nos gramados do Morumbi. O porquinho corria assustado em campo sob os gritos de porco da torcida corintiana. Durante muitos anos o Palmeiras não aceitou essa alcunha. Mas em 1986 quando o Palmeiras aplicou aquela goleada de 5 a 1 sob o rival, adotou o apelido, tornando-se o mascote “não oficial” mais amado do clube, que nos proporcionou momentos lindos como Paulo Nunes de máscara de porco correndo pelos gramados.
Enquanto Divino jogou, taças o Corinthians não levantou
Ademir da Guia, o nosso Divino fez sua estreia pelo Palmeiras em um derby (3 x 0 pro verdão em 22.2.1962) e fez sua despedida dos gramados também em um derby (uma derrota em 18.9.1977 por 2 x 0). Coincidência ou não, enquanto o Divino jogou pelo Palmeiras, o Corinthians não foi campeão. Foram 22 dos anos de completo jejum corintiano. Mais uma vez coincidência ou não, foi só o Divino aposentar as chuteiras que o Corinthians conseguiu um título e foi nossa vez de amargar um jejum até no 1993…
Foi em 1993…
E por falar em 1993 não tem palmeirense que não conheça essa história e que não se emocione com ela. 16 anos de jejum de título o verdão encarava seu maior rival em busca do campeonato paulista no dia 12 de junho de 1993. O jogo de ida tinha sido vencido pelo Corinthians por 1 x 0 9jogo em que o Viola imitou um porco no gramado) e de acordo com o regulamento da época o verdão tinha que vencer aquele jogo para levar a decisão para a prorrogação. E assim foi, 3 x 0 para o verdão no tempo normal um gol de Zinho, Evair e Edílson. Na prorrogação foi a vez de Evair decidir em uma cobrança de pênalti que pra ele ainda é tida como o pênalti mais importante de sua vida. Época em que jogador de futebol, sobretudo atacante, não se escondia de bater pênalti e nem perdia. Evair bateu e fez o gol, fez o 4 x 0 pro verdão que saia da fila para para correr de braços abertos pra torcida.
O Brasileiro de 1994
Foi em 1994 que os clubes protagonizaram a maior decisão entre os clubes. Pelo campeonato brasileiro as equipes chegaram a final. No jogo da ida o verdão venceu o por 3 x 0 com incrível atuação de Rivaldo que marcou 2 gols. Na finalíssima o verdão que estava tranquilo com o resultado empatou com o rival por 1 x 1 e levantou mais uma taça diante do rival.
A Libertadores de 1999
O título da Libertadores por si só é muito especial, mas mais especial ainda é saber que no caminho do título eliminamos nosso maior rival. O jogo de ida teve vitória do verdão por 2 x 0 após grande atuação de Marcos que protagonizou grande defesas, passando a ser chamado de São Marcos pela torcida. No jogo da volta a vitória foi corintiana o que levou a decisão aos pênaltis. São Marcos viu Dinei jogar a bola na trave e defendeu o pênalti de Vampeta. 4 x 2 para o verdão que avançou na Liberta até o título.
E em 2000 mais Libertadores
Na Libertadores de 2000 as equipes voltaram a se encontrar e novamente Marcos se consagrou como São Marcos. Dessa vez as equipes se encontraram na semifinal e o jogo era visto pelos corintianos como a oportunidade perfeita para a revanche. Mas derby é derby e Palmeiras é Palmeiras. No jogo de ida extremamente disputada, o Corinthians definiu sua vitória por 4 x 3 nos minutos finais. O jogo da volta também foi muito tenso, com direito a duas viradas de placar, terminando o jogo em 2 x 3. Assim, mais uma vez a decisão seria nos pênaltis e mais uma vez era a vez de São Marcos brilhar ao defender o pênalti de Marcelinho. Vitória alviverde nos pênaltis, eliminando mais uma vez o rival na Libertadores.
Na história não tão recente o verdão ainda tem momento inenarráveis como o hat-trick do Obina em 2008 ou eliminar o rival pela primeira vez em sua casa pelo Paulista de 2015 em uma disputa por pênaltis. Ou ainda aquela vitória pelo Campeonato brasileiro também de 2015 que contou com os gols de Rafael Marques e Zé Roberto. A vitória m 12 de junho de 2016 em casa com o gol do Cleiton Xavier que reforçou ainda mais o dia da paixão palmeirense.
Mas infelizmente parece que o verdão esqueceu o que essa história de sangue no olho, de raiva do maior rival. Apesar dos pesares técnicos que como eu disse não vou discutir nesse texto aqui hoje, eu acredito que de verdade o Felipão sabe o que é esse clássico, a importância absurda que tem para a torcida e para a história do clube. Por isso, ele melhor que ninguém sabe qual a letra tem que se dar dada os jogadores nesse pré derby: