NA SEMANA EM QUE COMEMORAMOS O CENTENÁRIO DO PRIMEIRO VOTO FEMININO, NADA COMO FALAR DE UMA MULHER, QUE FEZ O FUTEBOL SE RENDER AO TALENTO DO SEXO FORTE!

 

Chego no metrô um tanto esbaforida.

Pra variar, estava um pouco atrasada.

Imediatamente faço o meu ritual de toda Terça-feira: pegar a revista TimeOut, que é uma verdadeira febre em Londres e que virou minha revista de cabeceira.

Não apenas por ter dicas culturais incríveis, mas por nos presentear toda semana, com matérias sempre cheias de histórias e reflexões.

Descubro rapidamente, que aquela Terça, não era uma Terça qualquer.

O dia 6 de Fevereiro, tem muita história para contar.

O título da capa, que sempre refere-se à reportagem principal, era sugestivo: Thank you! E trazia um mosaico feito de nomes femininos.

Fiquei pensando por alguns instantes…

“Ainda não estamos em Março… Não é dia da Mulher, portanto…”

Minha curiosidade ia aumentando, à medida em que folheava as páginas da revista.

Foi então que li, com muita surpresa, o título da reportagem principal.

“Centenário do sufrágio feminino. Dia de dizer obrigada às mulheres que mudaram o mundo”

Descubro, que há exatos cem anos, as mulheres do Reino Unido votavam pela primeira vez, num movimento que ficou conhecido como Sufrágio Feminino.

A história marcada por muita luta, lágrimas e infelizmente algumas mortes, culmina com as mulheres conseguindo enfim, o direito de participar ativamente do processo democrático.

6 de Fevereiro de 1918.

Dia em que algumas mulheres, inscreviam, para sempre, o seu nome na história.

Mulheres pelas quais, temos não só orgulho, mas gratidão.

Meus olhos, já marejados à essa altura, liam inúmeros relatos de luta e resistência.

Eu tomava conhecimento de milhares de irmãs, espalhadas pelo mundo e que eu não tinha a menos ideia de que tinham existido e nem que haviam sido tão importantes para o nosso cenário atual.

Fui folheando a revista, quando de repente, me deparo com algo que me deixou tão perplexa, quanto feliz.

A foto da jogadora Marta, estava estampada no topo da página.

Ela fazia parte da célebre lista das mulheres homenageadas pela revista inglesa.

Eu não podia imaginar!

E não pude mais segurar as lágrimas, quando li a seguinte inscrição:

“Minha profunda gratidão à brasileira Marta, jogadora de futebol, por sua determinação e competência. Sua história, inspira milhares de meninas a continuarem perseguindo o seu sonho de jogar futebol.”

E a minha surpresa e orgulho, foram ainda maior, quando vi, que quem dedicava à nossa atacante, aquela homenagem, era uma ministra de esportes da Ingleterra.

Meu orgulho se vestiu de verde e amarelo!

A história de garra da menina pobre, que nasceu na pequena cidade de Dois Riachos, no estado do Alagoas, estava bem ali, “para inglês ver” e para o mundo reverenciar.

Marta Vieira da Silva.

Cinco vezes eleita a melhor futebolista do mundo.

Maior artilheira da história da seleção brasileira.

Mas se você pensou que esse recorde, trata-se da seleção feminina de futebol, você está redondamente enganado.

Marta conseguiu a incrível façanha de supercar nada mais, nada menos, que o Rei Pelé!

Infelizmente, apesar desse grande feito e de ser extremamente respeitada no mundo todo, no Brasil, seu “fã clube” é muito menor.

Ao invés de encontrar um signo carinhoso que pudesse homenageá-la, como fazemos com os nossos ídolos dos gramados, ela foi chamada de “Pelé de saia”.

A triste realidade a ser contada, é que pouco se ouve falar em seu nome nas rodas de futebol masculinas e pasmem, nas femininas também.

Comportamento que escancara o preconceito ainda vivo e feroz do nosso país, algumas vezes, assustadoramente perpetuado, pelas próprias mulheres.

Superando inúmeros obstáculos, próprios de quem está construindo o seu sonho, Marta sentiu na pele, muito cedo, que o maior de todos os obstáculos, era o preconceito advindo do machismo.

“Eu recebia olhares estranhos e comentários maldosos todos os dias simplesmente porque era uma garota. Uma garota que amava futebol. Não havia outras garotas jogando futebol na minha cidade. E as pessoas faziam questão de deixar isso claro…”

Como ela se atrevia a jogar o “jogo dos homens”?

Que audácia a dela de querer pertencer ao mundo masculino!

Foram dias difíceis.

Hoje nossa guerreira tem a carreira consolidada, o reconhecimento de seu talento e uma coleção de títulos, mas nunca se esquece desse início doloroso e faz questão de levantar a bandeira da luta por igualdade dentro do futebol.

Hoje, nosso blog completa um ano de existência e nós não podíamos deixar de falar das mulheres extraordinárias que fizeram história.

Que não pensaram só em si, mas vislumbraram o futuro.

Elas sonharam conosco, com a nossa liberdade.

E por amarmos tanto o futebol, nossa homenagem especial é dedicada à nossa guerreira dos campos, que abriu portas para tantas meninas que desejavam seguir a carreira esportiva.

Abriu portas para nós também, escritoras, cronistas, blogueiras, cujo jogo se dá no campo das palavras.

Se hoje nós podemos falar sobre o futebol, é porque essa possibilidade já foi arduamente conquistada.

Muito obrigada Marta!