Torcedor é feito de paixão.

Uma paixão tão avassaladora que faz com que tudo à sua volta se vista com as cores do seu time.

Paixão que faz o sangue ferver e o coração bater mais forte.

A torcida é o time em ebulição.

Uma beleza estampada no peito e cantada nos estádios.

Não há nada mais bonito que o torcedor apaixonado!

Mas em meio ao canto uníssono, que faz a alma arrepiar, há um tipo de torcedor que destoa.

Tradicionalmente chamado de amendoim ou corneteiro.

Mas eu prefiro chamá-lo de mimado.

Eles estão sempre de mal humor e com xingamentos na ponta da língua.

Esse tipo de torcedor, leva para dentro do estádio, as suas expectativas pessoais, frustrações e insatisfações.

Ele trata os jogadores como se fossem empregados que precisam desempenhar exatamente aquilo que ele deseja, sob pena de serem punidos, caso não correspondam. E cada jogo, vira um espaço para descarregar sua raiva.

Aquela magia do inesperado e o aprendizado com as derrotas, que estão na essência do futebol, não fazem sentido para ele.

A cobrança excessiva e a idéia de que é preciso vencer tudo, são as características principais desse nosso “colega” de arquibancada.

No seu mundo irreal, o time serve para lhe trazer satisfação imediata e se isso não acontece, ele está pronto para destilar ódio e pedir a cabeça de quem estiver pela frente.

Como crianças mal-educadas, eles estão sempre batendo o pé e esperneando.

Podemos pensar em várias hipóteses para tentar entender a cabeça do tal sujeito e ainda assim, ficaríam lacunas, mas uma coisa é certa, definitivamente, os torcedores em questão, não torcem para o mesmo futebol.

O jogo que veneramos, só é o que é, justamente por não ter a pretenção ufanista de vencer sempre, ao contrário disso, privilegia questões como superaçãoentrega e a capacidade de se refazer.

É isso que faz com o nosso futebol seja tão incrível e colecione tantas histórias emocionantes. Histórias que nem sempre acabam em vitória, gols ou títulos, mas que transformam as cicatrizes em marca gloriosas.

Aprender com as derrotas, é uma características dos grandes.

É preciso dizer que isso não é uma apologia ao conformismo ou uma não valorização das vitórias.

Ganhar é uma das sensações mais incríveis vivida pelos seres humanos.

Quem não quer experimentar os louros da vitória?

E que torcedor não se sente poderoso, quando o time sapeca gols no adversário?

O futebol carrega sim, em sua essência, a ânsia de vencer e tem que ser assim. Mas esse desejo que impulsiona os nossos heróis com a bola no pé, caminha de mãos dadas com a realidade, uma realidade que muitas vezes traz agruras e dificuldades.

Querer que o time ganhe, há de ser sempre, o desejo que enche o coração de todo torcedor, o problema é fazer disso, uma arma contra o próprio time.

Os torcedores mimados, por acharem que a derrota é inadmissível, palavra que aliás, é constantemente usada por eles, acabam por criar uma pressão, que é tão desnecessária, quanto prejudicial. É como se o elenco, estivesse sempre na berlinda e todas as esperanças, sempre por um fio.

É cansativo ouví-los falar…

Eles vão criando um clima tão pesado, que as cores do time, passam a ficar cobertas de cinza. Uma vedadeira nuvem negra está acima de suas cabeças, como cena de desenho animado.

E porque não dizer que alguns deles, seriam um tipo de anti-torcedor.

Sim, se observarmaos com cuidado o discurso do nosso mimado de plantão, veremos que, em última análise, ele está de fato torcendo contra. Talvez a intensão nem seja essa e talvez ele nem perceba a força negativa de suas palavras, mas o que é proferido, mais parece um mal agouro.

Nas nossas arquibancadas Alviverdes, pode-se ouvir coisas tais como:

“O Palmeiras não vai ganhar nada esse ano…”

O que adianta ter um elenco caro, se esses jogadores não fazem nada…”

“Esse Cuca desaprendeu a treinar o time…”

“Time sem-vergonha!”

O apoio que ele canta ser incondicional, está na verdade, condicionado à resultados positivos.

Se isso não acontece, a coisa muda de figura.

Sofrer um gol, que é uma das cenas mais comuns numa partida de futebol, é motivo para que ele encha os nossos ouvidos de reclamações, muitas vezes infundadas.

Eles nunca estarão satisfeitos com nada.

Se o Palmeiras ganha por 1×0, poderia ter feito mais gols. Se o gol foi de penâlti, foi vitória fácil. O goleiro pode defender 99%, mas se vazar 1%, é chamado de frangueiro e se o técnico mexer mal no time, passa a ser o vilão do jogo.

É impossível agradar.

Por falar em vilão, o futebol para o qual eles torcem, não é um jogo coletivo, ao contrário, é feito de vilões e mocinhos, de estrelas solitárias.

É um futebol chato. Que tem que estar à serviço de seus desejos pessoais.

Esse tipo de torcedor não é privilégio só Palmeiras, mas que o nosso time coleciona torcedores mimados, isso é certo.

Virou uma espécie de característica da torcida, uma péssima caractérisca, diga-se de passagem e que sempre motiva discussões acalouradas.

As brigas internas são intermináveis e há quem ache, que os adversários irritam menos, que os “queridos amiguinhos” vestidos de verde e branco. Eu assino embaixo.

Mas o que se há de fazer?

Se o futebol é o jogo mais inclusivo do mundo, todos serão sempre bem vindos aqui.

Só nos resta pedir que os deuses do futebol nos encham de paciência e por favor, tirem a nossa força…

Caso contrário, vai sobrar umas boas palmadas!