O texto é feito sobre uma ida ao Allianz Parque, mas leia com o coração aberto, não é uma questão de clube, é uma questão de respeito.


Normalmente, vamos ao estádio acompanhadas de amigos, vamos em bando, fazendo aquela bagunça desde o metrô até a arquibancada. Mas ai chega o dia que você não tem companhia para ir, motivos diversos fazem com que seus amigos não possam te acompanhar. Eu já vi várias vezes homens indo sozinho ao estádio. Já mulheres, é bem mais difícil. Confesso que sempre tive medo.

Várias vezes deixei de ir à um jogo que gostaria MUITO de ter ido porque meus amigos não puderam ir. Quantas vezes fiquei frustrada em casa vendo o jogo pela TV ou pelo computador só pela falta de alguém do lado na arquibancada. Há algum tempo atrás me recordo que li uma matéria na ESPN de uma mulher que sempre ia sozinha ao estádio, assim como eu deixava de ir em jogos pelas falta de companhia, até que um dia foi, pela primeira vez, desacompanhada e depois disso, nunca mais deixou de ir em um jogo por falta de companhia.

As arquibancadas ainda são predominantemente ocupadas por homens e sabemos que o assédio independe do clube, é uma questão de caráter de cada um e isso não se perde ou ganha pela cor da camisa. Sempre tive receio e, por isso, demorei 25 anos para perder esse medo.

Eu sou mulher, independente, trabalhadora, pago minhas contas e, inclusive, meus ingressos. Feminista e palmeirense apaixonada, várias vezes me perguntei “por que não tentar ir ao estádio um dia sozinha?”. Afinal, faço várias coisas sozinha! Faço compras sozinha várias vezes, já jantei ou almocei sozinha várias vezes, já fui ao cinema sozinha algumas vezes, então, por que deixar o meu Palmeiras sem a minha presença na peleja, por medo de ficar só na arquibancada?

Esse dia chegou, meu time líder isolado do Campeonato Brasileiro ia encarar o Sport pela 32º Rodada do Brasileirão. Eu queria MUITO ir ver esse jogo, meus amigos não podiam ir. Até que eu decidi: vou sozinha!

Comprei meu ingresso e fui. Fui de transporte público com a camisa do Palmeiras, encontrei vários outros palmeirenses fazendo o mesmo caminho que eu, fomos meio que em caravana, sai do ABC paulista para a Barra Funda. Desci na estação Palmeiras-Barra Funda e me juntei a massa verde que seguia rumo ao Allianz. Cheguei sem problemas, sem nenhum incidente pelo caminho.

Peguei meu ingresso e achei minha cadeira e lá fiquei, cantando e vibrando os 90 minutos sem parar. Percebi que ali eu não estava sozinha, tinham 31 mil corações batendo em prol de uma coisa só: o meu Palmeiras. Ali na arquibancada, cantando, gritando, vibrando e xingando (quando necessário) tinham 31 mil pessoas que tinha o mesmo sentimento que o meu e isso nos ligava.

Ninguém fica só na hora de comemorar gol, na hora de comemorar um belo lance e na hora de vaiar o escanteio do rival.

Foi uma das melhores experiências que tive. Pude cantar, vibrar e xingar a vontade, sem pensar o que meus amigos achariam da minha boca suja.

Mas o mais importante: não sofri nenhum assédio. Não passei por nenhuma situação constrangedora. Me senti empoderada naquela arquibancada e percebi que ali era o meu lugar sozinha ou acompanhada, homem ou mulher.

Há muito tempo percebemos que futebol não é uma questão de gênero e fico cada dia mais feliz ao perceber que somos cada vez mais presentes nas arquibancadas e cada vez mais respeitadas, que não somos “a menina que foi acompanhar o namorado”, mas sim a torcedora que foi apoiar seu time do coração, afinal somos iguais a qualquer outro torcedor. Aliás, igualdade, é só isso que queremos.

Não podemos viver em um mundo onde tenhamos medo de ir em algum lugar por receio de ser assediada. Infelizmente, para as mulheres, isso é comum. Temos medo de andar sozinha depois de um determinado horário, temos receio em ir a determinados lugares sozinha, mudamos de roupas várias vezes para ir em algum lugar, pensando com qual roupa teremos menos chance de ser assediadas. Mas cada dia estamos conquistando o nosso lugar e conquistando o merecido respeito também das arquibancadas. O meu amor pelo Palmeiras é maior que tudo isso.

De hoje pra cá eu lhes garanto uma coisa: nunca mais deixarei de ir a um jogo por não ter companhia, a arquibancada é meu lugar, seu lugar, nosso lugar.

Publicado originalmente no Blog Mulheres em Campo.