No Derby, a vitória foi ver uma árbitra fazendo história
O mês dedicado às mulheres começou com um marco histórico no futebol paulista, a árbitra Edna Alves da Silva se tornou a primeira mulher a apitar um clássico entre Palmeiras e Corinthians. Diante da maior rivalidade do estado, de um jogo que sempre deixa as emoções à flor da pele, Edna fez uma partida impecável. Auxiliada por Marcelo Van Gasse e Neuza Inês Back, com sobriedade e firmeza, ela conduziu muito bem a partida, totalizando 27 faltas marcadas (15 do Corinthians e 12 do Palmeiras) e quatro cartões amarelos (dois para cada equipe).
De toda atuação, ressalto o momento em que houve um princípio de confusão entre os jogadores das duas equipes. Diante do empurra-empurra, Edna não hesitou e com firmeza controlou a situação rapidamente. Com cerca de um minuto o princípio de confusão já havia sido encerrado e a bola voltava a rolar. Mas, por que ressalto esse lance? Porque, principalmente, é um momento de tensão envolvendo equipes rivais, o que poderia não terminar nada bem e já vimos jogos ficarem longos minutos paralisados ate que tudo se resolvesse… e dessa vez não foi assim. Com pulso firme e muita sabedoria, a árbitra resolveu a situação que não resultou, nem mesmo em polêmicas, entre os torcedores. Meus amigos, nós sabemos a difícil missão é controlar palmeirenses e corinthianos quando soltam faíscas e ver uma mulher fazendo isso com maestria me enche de orgulho. Ao olhar a foto abaixo, de imediato, me veio a mente que Edna estava sendo acuada pelos jogadores, mas não… foi ela quem entrou “no meio da confusão” e colocou ordem no jogo. Mulher sendo mulher!
Por muito tempo eu me questionei sobre como o mundo enxergava o papel da mulher no futebol. Muitas vezes me frustrei diante de episódios machistas, diante do fato de ser bonito ver mulher no estádio, nos pôsteres de musa dos times, mas ainda restarem dúvidas quanto à sua eficiência em campo, nos demais trabalhos que englobam o esporte… muitas vezes eu senti que a mulher, no futebol, era vista com objetivação, não como componente. E ontem olhei para o jogo e vi tudo isso sendo quebrado. Um arbitra que deu aula de profissionalismo, de bom senso e liderança… tudo que vem faltando na arbitragem brasileira ultimamente.
Para nós, mulheres que amamos o futebol, o derby comandado por Edna deve ser lembrado de forma histórica. Quebramos, a cada dia, barreiras e muros que insistem em dizer que o futebol é coisa de menino. Marta Vieira da Silva, a nossa Marta camisa 10, já foi eleita por várias vezes a melhor jogadora do mundo; nos gramados espalhados pelo país, vemos cada vez mais mulheres torcendo pelos seus times e não apenas como objeto de decoração; repórteres femininas repassando informações com eficiência, mulheres calçando a chuteira e fazendo bonito, jogando como mulheres e árbitras comandando partidas impecáveis. É somente o começo, mulheres!
Autora : Caroline Araujo