“É dia de jogo!”

Foi o primeiro pensamento que lhe ocorreu quando abriu os olhos.

Era manhã de um domingo cheio de sol.

Domingo de jogo, tem uma coisa diferente no ar, tem certo brilho no céu que não dá pra explicar…

Para onde quer que se olhe só se vê uma coisa: o seu time!

Só se pensa no jogo de logo mais…

“Logo mais? Mas o jogo não é no fim da tarde, menina? Você  acabou de acordar!”, contesta a mãe, já um tanto irritada com aquela agitação que ela conhecia muito bem.

“Fim da tarde tá quase aí…”, ela resmunga baixinho, enquanto tenta escolher a camisa que vai usar.

Ela olha rapidamente as paredes do quarto bagunçado e entre as muitas flâmulas, retratos autografados e troféus da escola, seu olhar encontra um pôster… Aquele pôster, onde se lê em letras garrafais: “CAMPEÃO”.

Era definitivamente o seu preferido.

Também pudera! Tinha sido o jogo da sua vida.

Seu time tinha quebrado o “jejum” em cima do tão odiado arquirrival.

Imediatamente é puxada pela memória…

Parece que foi ontem!

Tinha a impressão de que se fechasse os olhos, conseguiria ver claramente todos os detalhes  daquele dia.

Sem nenhum esforço, podia até ouvir os gritos ensandecidos da torcida: “é campeão, é campeão”.

E aquela bandeira gigante cobrindo o estádio com as suas cores preferidas!

Que dia inesquecível!

Uma emoção que ela nunca conseguira colocar em palavras…

Um barulho qualquer vindo de fora, a traz de volta ao quarto.

Rapidamente, ela escolhe a camiseta e cinco minutos depois, está na sala despedindo-se.

“To indo pro jogo!”

Agora é o pai que parece incomodado com a cena, “Ô garota, não tá cedo demais pra ir nesse jogo não, hein?”

Mas ela já estava no portão e não conseguiu ouvir mais nada, além do grito de guerra que cantarolava baixinho.

Havia combinado com os amigos de se encontrarem antes do jogo, pra fazer uma concentração e depois caminhar até o estádio.

Era sempre assim.

E ninguém ousava faltar ou descumprir o ritual.

“Meus pais não entendem nada de futebol” pensava ela, inconformada com tantas perguntas.

“Hoje é dia de jogo!”

Era impossível se imaginar chegando ao estádio sozinha em cima da hora de começar a partida.

“Eles não entendem nada!”, repetia para si mesma.

Meia hora depois, já conseguia ouvir a batucada da torcida que enchia a rua e o seu coração, que agora batia na mesma toada.

O desejo de ver o time entrar em campo aumentava, à medida que as horas passavam devagar…

“Daqui a pouco”, ela pensa, “nós vamos invadir as ruas e avenidas”.

E ela mal podia esperar pra sentir novamente a emoção de pisar os pés no estádio.

Aquele estádio… Cheio de tantas histórias!

Hora do jogo!

Nossa garota não conseguiu conter as lágrimas quando o time finalmente entrou em campo, recepcionado pelos fogos e pelo glorioso hino, que é cantado em uma só voz…

Naquele momento, todos os que ocupam as arquibancadas tornam-se um só.

Misturam-se. Somam-se. Dividem emoções. Multiplicam o sentimento de pertencer a uma história de lutas e vitórias!

Apenas um pensamento invade sua mente: “Não há outro lugar do mundo em que eu gostaria de estar nesse momento”.

Mas naquele domingo, o time do coração perdeu.

E só entende a amarga sensação de uma derrota, quem ama como ela, desmedidamente!

Quando finalmente consegue deitar, envolvida pela tristeza e pela escuridão de seu quarto de menina, ela suspira e pensa: domingo que vem, eu estarei lá novamente!

Porque domingo…

Domingo é dia de futebol!

Autora : Alê Moitas