Arrancada heróica – De Palestra à Palmeiras
SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA. E É DAS BOAS!!!
O mundo vivia o caos da Segunda Guerra Mundial em 1942, o Brasil era governado por Getúlio Vargas, que com o passar do tempo e alguns ataques alemães contra as tropas brasileiras, deixou de ter uma posição neutra e se aliou aos Estados Unidos da América.
Imigrantes italianos (assim como os alemães e japoneses) sofriam com o preconceito, intolerância, difamação e repressão por parte do Governo e da sociedade. O Palestra Itália, criado com o intuito de uní-los e juntá-los dentro destas terras tupiniquins, também passou a ser perseguido.
Um decreto determinava que, tanto pessoas físicas quantos jurídicas, das três nacionalidades citadas, poderiam ter seus bens confiscados.
Enfrentar todas as dificuldades se fazia necessário.
Instituições eram forçadas a mudar seus nomes, o Palestra Itália de Minas Gerais se tornaria Esporte Clube Cruzeiro e o Palestra Itália de São Paulo se tornaria Sociedade Esportiva Palmeiras.
Havia um ódio coletivo com relação aos italianos. Sua chegada em massa no Brasil no século XX, sua união, seus esforços em diferentes atividades por aqui, a colaboração para popularizar o futebol entre as classes mais baixas, foram pontos cruciais para que a elite, junto ao governo brasileiro, criassem esse sentimento.
Escudo Institucional do Palestra Itália
Foi em março daquele ano que todos os empecilhos possíveis apareceram. Desde 1914 o Palestra Itália vinha numa crescente, sempre em destaque no futebol nacional.
O rival, São Paulo Futebol Clube, viu uma oportunidade e quis se aproveitar das dificuldades enfrentadas pelo re-nomeado Palestra de São Paulo.
A cor vermelha saiu do escudo, ficando apenas com o verde e amarelo, uma alusão à bandeira nacional.
Escudo Institucional do Palestra de São Paulo
Entre a primeira e a segunda troca de nome, o diretor de futebol vascaíno e então capitão do exército, Adalberto Mendes, era enviado à cidade de São Paulo à serviço. Ao chegar na cidade, encontrou Ernani Jota, um amigo das antigas e muito ligado ao Palestra Itália. Após ser bem recebido pelo presidente Ítalo Adami, criou vínculos com outros dirigentes, se identificou com o clube e tornou-se um integrante da torcida que canta e vibra.
Ter aquela figura com o poder de amenizar o clima de hostilidade imposto em cima da instituição era de fundamental importância, tanto que o, mais tarde, General Adalberto Mendes, foi nomeado para o posto de 2° vice-presidente.
Estátua do Capitão Adalberto Mendes
Alguns meses depois, enquanto o Palestra tinha destaque no campeonato paulista, dirigentes são paulinos influenciam o governo brasileiro a prejudicá-lo e consequentemente fechar as portas, dando a oportunidade de ficar com todos os seus bens.
Nomes importantes da época, como o Sr. Paulo Machado de Carvalho e o Tenente Porfírio da Paz, ambos dirigentes do São Paulo, utilizaram de suas influências políticas e militares para adquirir tudo que era pertencente aos palestrinos.
Com a alegação de que o nome atual era utilizado de forma “ilícita” e fazia alusão à Itália, por isso deveriam haver consequências de acordo com as leis. Já não havia mais qualquer tipo de ligação nominal com a Itália, por mais que foram os italianos que fundaram o clube, genuinamente ele era brasileiro e a palavra “Palestra” tinha origem grega.
Novamente os dirigentes se juntaram para uma troca de nomes, assim evitariam perder todo o seu patrimônio e driblariam todo aquele preconceito.
Ata de mudança de nome da Instituição em 1942
14 de Setembro de 1942, Ítalo Adami convocou os dirigentes palestrinos, entre eles o Sr. Mário Minervino, que foi quem sugeriu o nome Sociedade Esportiva Palmeiras.
Suas palavras foram “Não nos querem Palestra, pois seremos Palmeiras e nascemos para ser campẽos.”
Há quem fale que o nome foi pela vasta quantidade de palmeiras dentro das dependências do clube, além do fato de serem árvores totalmente nacionais. Mas também há quem fale que foi uma alusão ao antigo adversário do Palestra lá no seu início, a extinta Associação Atlética das Palmeiras.
Independente de como e porque, o que importava era que essas três palavras tinham poder.
Escudo Institucional da Sociedade Esportiva Palmeiras
20 de Setembro de 1942. O dia do Palmeiras. O dia da redenção.
Após uma campanha incrível no campeonato paulista, com 16 vitórias e 2 empates nas 18 rodadas até então, tendo marcado 61 gols e sofrido apenas 15. Todo esse desempenho espetacular fez com que o Palestra fosse líder absoluto e incontestável do torneio, lhe dando a chance de vencer apenas um dos dois jogos que viriam a seguir para levantar o caneco, São Paulo e Corinthians, respectivamente.
O duelo que ficaria marcado na história do futebol e do Palmeiras era contra aquele mesmo São Paulo que dias antes tentara um golpe desleal.
Tinha algo a mais naquele jogo. A dignidade, as glórias, a história, as lutas de todo um povo, de toda uma colônia que se fizera nação entraria em campo também.
As duas equipes antes do confronto histórico
Era uma decisão, daquelas pra entrar na história. E entrou.
O Palestra Itália não havia perdido nenhum jogo até então, o Palmeiras queria manter a sua memória acesa.
Sem harmonia entre as duas partes, os são paulinos exaltavam para todos que os palmeirenses eram italianos fascistas e inimigos da pátria.
Diretores, jogadores, comissão técnica, torcedores e até simpatizantes do Palmeiras acompanharam fielmente tudo o que era publicado antes clássico ser realizado. A pressão sobre os novos alviverdes era difícil de suportar, ninguém fazia ideia de como seria a reação dos envolvidos naquela situação.
Havia conhecimento de que surpresas poderiam rolar no decorrer daquele dia.
Pacaembu, o estádio inaugurado pelo Palestra anos antes teria, novamente, papel fundamental na história do maior time de futebol do Brasil.
Uma das maiores torcidas da capital paulista, tomava a cidade com o sentimento de euforia.
O estádio estava lotado, com muitos antipalmeirenses preparados para uma sonora vaia assim que o Palmeiras entrasse em campo. A intimidação do time foi inevitável, entrar de cabeça baixa e ouvir as vaias, por mais dolorosas que fossem.
Entrou em cena o Capitão Adalberto Mendes. Ele deu a sugestão de entrar como linha de frente, junto aos jogadores, que carregariam a bandeira do Brasil. Uma forma de demonstrar a força do fardamento militar e autoridade de oficial do exército brasileiro, uma forma de impor respeito diante dos ali presentes.
Jogadores e comissão do Palmeiras entram em campo acompanhados pelo Capitão Adalberto Mendes e com a bandeira brasileira em mãos
A Sociedade Esportiva Palmeiras entraria no gramado de cabeça erguida, ninguém ousaria vaiar um time representado por um capitão do exército e que carregava a bandeira do nosso país.
Não havia mais hostilidade ou apreensão. Apenas confiança. E isso foi repassado até as arquibancadas.
Deu-se início ao jogo.
Oberdan Cattani, um dos grandes ídolos da história do futebol palestrino, segurava as chances de gol criadas pelo São Paulo. A camisa branca de goleiro dava lugar à azul, uma provável forma de protesto, já que a seleção italiana fazia seus jogos de azul, assim como nos dias atuais.
Com o foco na decisão e a tensão no ar, o objetivo de ser campeão paulista invicto estava cada vez mais próximo.
Aos 20 minutos do primeiro tempo o 0 saía do placar, Cláudio Pinho abriu o placar para a Sociedade Esportiva Palmeiras, em seguida o empate aconteceu e quando o primeiro tempo parecia se definir num empate, Del Nero coloca novamente os alviverdes em vantagem.
Aos 14 minutos da etapa final, o argentino Echevarrieta deixa a partida mais aliviada para o lado do Palestra ao marcar o terceiro gol para a equipe.
Todos os jogadores sabiam da importância daquela partida, tanto fora quanto dentro das quatro linhas.
Tudo o que havia sido enfrentado até ali, a vitória e conquista do título seriam apenas complementos do orgulho que se instalaria na alma de cada palmeirense, os fatos seriam motivo para engrandecer a história daquele que viria a ser considerado o campeão do século XX.
Mesmo com o placar favorável, nada havia sido definido. Ainda tinha mais por vir.
Og Moreira invadiu a defesa tricolor, foi derrubado dentro da área e o juiz Jaime Janeiro assinalou penalidade máxima, que culminou na expulsão do zagueiro Virgílio.
Todos os companheiros do jogador se revoltaram e não deixavam o Palmeiras realizar a cobrança, até que seu capitão Luizinho orientou que a partida fosse abandonada por eles.
A partida foi encerrada e a comemoração do título se fez possível.
Decepção e deslealdade resumem a atitude tricolor naquele dia.
Enquanto o Palmeiras crescia no conceito dos paulistanos e já era visto como um grande clube brasileiro.
Elenco vencedor do Paulista de 1942
Mais tarde o treinador, Armando Del Debbio, bradou a frase “O Palestra morre líder, e o Palmeiras nasce campeão.”
Morreu líder e nasceu campeão.
Com todos os méritos e a dignidade que o futebol merece ver.
Com todas as honras e glórias que a sua torcida e sua história merecem ter.
Sociedade Esportiva Palmeiras, por mais que tentem te derrubar, te prejudicar e te desmerecer, lembre-se sempre das suas conquistas, dentro e fora de campo.
Desistir nunca fez parte da sua história.
Parabéns pelo Dia do Palmeiras.
Obrigada por ser parte importante das nossas vidas.
Autoras : Marcela Permuy & Letícia Basto Pigari