Toda adolescente tem a idealização do príncipe encantado, um sonho típico de princesa da Disney. Eu, como sempre a autêntica, nessa fase estava criando meu técnico encantado.

Em julho deste ano (2021) vou completar 10 anos de formação em Educação Física e ao longo dos 4 anos na universidade eu idealizava um modelo utópico de um clube perfeito, um jogador completo e um técnico sem defeitos.

Naquela época, adolescente, sonhadora e imatura, ficava revoltada em ver a realidade oposta do que eu aprendia nas aulas, principalmente em questão de técnicos de futebol.

Quanto mais aprendia, mais a frustração vinha. Por A mais B ficava claro que técnicos que eram recém aposentados do campo (ex-jogador), sem conhecimento acadêmico não duravam no cargo, não rendiam ao lado de campo, até porque não bastava ter conhecimento tático, prático, sem conhecimento de gestão humana e do futebol como uma multidisciplinaridade.

Estava nítido, para mim, que o futebol estava mais no tato do que no conhecimento científico.

Não conseguia expressar isso, o tempo foi passando e eu fui me calando, porque era tachada de sonhadora, quando defendia os estudos acadêmicos no mundo do futebol, a obrigatoriedade de técnicos estudiosos, parecia um papo de uma recém formada afim de salvar o futebol arcaico e falido do Brasil.

Até que o 7×1 veio e mais uma vez eu voltei a sonhar. Parecia ser a oportunidade perfeita da minha tese ser aplicada.

Foram tempos de enxurradas de reportagens falando da Alemanha vencedora na terra do futebol pentacampeão, muito se falava da importância do futebol de base, as competências dos técnicos estudados, a explicação do que era gestão humanizada no esporte. Era assustador eu ver as pessoas com expressão de descoberta, da fórmula mágica do futebol moderno, a tal fórmula que tentava expressar há um bocado de tempo.

A esperança foi renovada no meu coração, porém aqui as coisas são passageiras e não vi nada revolucionário a ponto de ver melhoras. E a vida foi passando, o futebol se estagnando, mas não deixei de sonhar.

Bom, vi muitos técnicos estrangeiros estudiosos, com formação de gestão humana, com equipes multidisciplinares excelentes fazendo história. Técnicos comprovando que meu técnico encantado existia, só não estava à disposição do meu time do coração.

Um belo dia, em plena pandemia, o anúncio de um novo técnico no Palmeiras, dessa vez, um que ninguém conhecia, pensei: em mais um que iria sair do seu conforto, que iria ter que ser paciente com a filosofia de tato do futebol brasileiro e torcida resultadista.

Mas bastou ouvir o Abel Ferreira falar em sua primeira coletiva e ter uma paixão à primeira.

A cada palavra sentia que era um técnico diferente, que estudava o futebol de verdade, que tinha o humanismo como filosofia de jogo, suas frases tão sábias, vi o meu técnico encantado.

O meu coração estava fechado com ele, e não demorou muito para Abel conquistar o coração da torcida como um todo, depois da impressa. Em poucos meses evidenciou para todos, sem medo, a fragilidade do calendário brasileiro que é discutido há no mínimo 10 anos como desumanos, a ineficiência das entidades administrativas do futebol e o quando acha pesado as críticas dos apaixonados palmeirenses.

Abel é o meu técnico idealizado em tempos universitários, o cara que sabe dizer as verdades com leveza, tem o respeito e a autoridade, ele é mais que um técnico é um mentor dos atletas, preza os estudos e troca de experiências com outros técnicos, sabe a importância da cultura e da história, sua equipe multidisciplinar é uma das mais completas e eficientes do Brasil.

Abel atravessou o Atlântico para ajudar a provar minhas teses, mesmo que tenha demorado 10 anos para as pessoas compreenderem, em 4 meses ele conseguiu fazer meu coração reascender e voltar a acreditar em dias melhores no mundo do futebol.

Depois de muito sonhar, acordei com o meu técnico encantado.