A origem do termo torcedor, que remete às mulheres que torciam suas luvas enquanto assistiam às primeiras partidas de futebol, não deu nenhum regalo a nós, torcedoras de arquibancada. No Irã, as mulheres são proibidas de frequentar estádios há décadas. Aqui, lutamos contra um adversário quase velado.

O esforço para se inserir em um ambiente tão machista quanto o do futebol é um reflexo do que se vê na sociedade brasileira. A resistência à nossa presença não se limita ao universo micro do esporte. Do mercado de trabalho ao convívio social, tentamos a duras penas conquistar respeito e ocupar a parte que nos cabe nesse latifúndio.

Muitas vezes, a presença feminina no estádio é tolerada apenas condicionada a uma companhia masculina, como se não existíssemos enquanto indivíduos e precisássemos de uma espécie de aval para ocupar tal espaço. Pela roupa que vestimos, somos alvos de olhares lascivos e abordagens desrespeitosas. Nossa opinião é recebida com riso carregado de menosprezo. Sem falar nas tentativas tão rasas de julgar o grau de conhecimento sobre futebol com perguntas sobre a escalação de 1972 ou as regras de impedimento. Já não há mais espaço para isso.

E não é apenas quando ocupamos a arquibancada não nos respeitam. Não recebemos credibilidade neste espaço sequer em ofício. Jornalistas e assistentes de arbitragem são atacadas, frequentemente, com ofensas que refletem uma fixação na sexualidade feminina.

Torcedoras ou profissionais, não frequentamos o estádio como objeto decorativo. E a busca por um espaço nosso por direito começa a se fortalecer, ainda que nos empurrem pra baixo quase sempre. Nossa mensagem de resistência se mostra cada vez mais presente com o crescente público feminino marcando lugar nos estádios e a criação de movimentos e coletivos de mulheres torcedoras dispostas a discutir os velhos padrões desses ambientes para torná-los cada vez mais agregadores e democráticos.

A busca por protagonismo e pertencimento esbarra, muitas vezes, na ausência de apoio. A falta de consciência feminina de que o machismo estrutural oprime mulheres dentro e fora dos estádios só reforça uma competitividade tóxica e pouco produtiva.

Queremos ter voz, visibilidade e respeito. Precisamos, nós mulheres, assumir nosso papel na disputa por igualdade em todos os setores sociais, principalmente naqueles onde o machismo se manifesta sem timidez.